Será que a Padroeira de Salvador não merece ter o seu dia?
Por: José Morais
Fotos: José Morais
Hoje vou falar de um tema, que
no passado mês de setembro comentei com diversas pessoas, sobre a Padroeira de
Salvador “Nossa Senhora da Oliveira”,
ela que é a “Padroeira” da
nossa aldeia, apesar de muitos pensarem que seja Santa Sofia, onde anualmente
tem os seus festejos, mas…a realidade não é essa, porem, que se tenha
conhecimento, a mesma nunca possui o seu dia festivo no calendário litúrgico,
nem nunca se realizou uma festa em sua Honra, algo que muitos aprovam a sua
realização.
“Nossa Senhora da Oliveira” reza a lenda que a sua imagem apareceu na cavidade de uma oliveira no sítio dos Covões, onde a partir dai nasceu o seu culto, onde chegou nesse local a existir um templo dedicado à mesma, onde a sua imagem repousava, porem motivado pela antiguidade, e má conservação, o mesmo foi demolido, sendo a imagem colocada na igreja matriz da Aldeia de João Pires.
Ao longo de muitos anos, a
mesma ficou naquela igreja, os Condes de Belmonte que na altura eram os senhores da aldeia, a recusarem a
construção de uma nova igreja, porem, os fiéis viram-se obrigados a construir
uma nova, sendo os custos a seu cargo, erguida no local onde se encontra
atualmente, após a sua construção, a imagem de Nossa Senhora da Oliveira
regressou ao Salvador, mas a má conservação da mesma deu origem a que o bispo
da Guarda D. Rodrigo de Moura Teles numa visita à nossa aldeia, a mandasse
enterrar, e ordenou que fosse feita uma nova.
História
de Nossa Senhora da Oliveira
“Nossa Senhora da Oliveira”, ou simplesmente “Senhora da Oliveira” é uma das invocações marianas ligadas à veneração pela “Paixão de Cristo”, estando o título associado à igreja “Murat”, uma pequena aldeia no sul de França, sendo esta igreja atingida por um raio em 1493, causando um incêndio, onde apenas sobreviveu a imagem que era de madeira de “Nossa Senhora da Oliveira”, passando a cidade após aquele milagre a chamar-se com aquele nome.
Sendo a oliveira uma árvore
rica em simbolismo, já que remete às bênçãos do Céu, à virtude, ao dar fruto e
à bondade, “Nossa Senhora” é identificada com a oliveira à qual se referem
as Sagradas Escrituras, “Nossa Senhora da
Oliveira” é conhecida por ajudar especialmente as mulheres
durante o parto e também por proteger do impacto dos raios, porem, existem
numerosas igrejas e santuários dedicados à mesma, na França, Itália, Brasil, Espanha
e em Portugal.
Em Portugal muitos são os
locais onde “Nossa Senhora da Oliveira” é festejada, e venerada, sendo o orago da Fajã de
Cima em Ponta Delgada no Açores, no Sobral da Abelheira em Mafra, no Tortosendo
na Covilhã, ou em Guimarães, onde possui uma oliveira no seu castelo, reza a
história que aqui o rei Godo trouxe de Jerusalém uma oliveira que a plantou em
S. Torcato, para assim o azeite pudesse alumiar o corpo do Santo Bispo, muitos
séculos depois acabou por secar, mantendo-se assim seca, até que reza a
história, de que junto à mesma foi erguido um cruzeiro padrão, com a oliveira a
criar depois rebentos, com o povo a fazer romarias para ver o milagre que se
tinha dado em honra de Santa Maria de Guimarães, que se passou depois a chamar
de Santa Maria da Oliveira.
Reza também a história, de que
D. João I tinha sido aclamado Rei de Portugal em 1385 na conclusão do período
de anarquia que avassalou o país durante um interregno de mais de dois anos,
nesse mesmo ano, as tropas portuguesas, em inferioridade numérica, lideradas
pelo seu monarca e pelo condestável D. Nuno Álvares Pereira, tiveram de travar
a Batalha de Aljubarrota, onde estava em causa a independência de Portugal face
ao Reino de Castela, com o rei em desespero de causa, orou pela vitória das
tropas portuguesas à “Nossa Senhora da
Oliveira”, após a vitória o mesmo deslocou-se a Guimarães para
agradecer, onde mandou edificar uma igreja, e ainda o Mosteiro de Santa Maria
Da vitória.
Ainda por curiosidade, existe
o registo do primeiro milagre conhecido de Santa Maria da Oliveira, Padroeira
do concelho de Guimarães, data do dia 8 de outubro de 1342, com o “Livro dos Milagres de Nossa Senhora da Oliveira” a
dar conta de que, nessa época, Pedro Esteves adoeceu e seu irmão Gonçalo seguiu
a vontade de Deus ao encaminhá-lo para a região da Normandia, em França, aí
adquiriu Pedro uma primorosa cruz esculpida que trouxe para Guimarães.
A cruz foi colocada na antiga
alcaçaria, ao lado da Oliveira que estava seca, mas que, por “Milagre” de
Santa Maria de Guimarães, em três dias reverdeceu e começou a deitar ramos.
Salvador também tem a sua
Padroeira “Nossa Senhora da Oliveira”,
com a aldeia a possuir atualmente duas capelas e uma igreja, tem a capela de
Santa Sofia que foi erguida pelo povo, como forma de reconhecimento pela
povoação ter sido poupada à destruição por uma inundação, e onde tem os seus
festejos anuais, sendo venerada pelo povo, a capela Nossa Senhora de Fátima, de
construção mais recente, e das poucas aldeias portuguesas que possui uma,
também anualmente em maio é celebrada com procissão de velas, e por fim a
igreja matriz, onde se encontra a padroeira “Nossa
Senhora da Oliveira”, onde nunca celebra ou celebrou nada em
honra da mesma que se tenha conhecimento.
Fica a pergunta: “Será que a Padroeira de Salvador não merece ter o seu
dia?”, pela opinião de muitos merece, dever-se-ia celebrar,
escolhendo uma data, e fazer-se uma festa em sua honra, nem que fosse apenas
religiosa com uma procissão.
Fica o desafio.
Bem-hajam.
Nota: Com alguns excertos do
livro Salvador Barquinha D’Oiro do nosso conterrâneo Albertino Calamote, com um
agradecimento especial.