“Zé Lérias” um artesão Salvadorense
Por José Morais
O artesanato, é algo que marca
as regiões, sejam elas aldeias, vilas ou cidades portuguesas, e a nossa aldeia
não foge à regra, sendo o mesmo antiguíssimo em Salvador.
Hoje, vamos falar de José Antunes, mais conhecido por “Zé Lérias”, o qual, ficará para sempre na memória do mais velhos, e agora damos a conhecer também aos mais novos.
São inesquecíveis os trabalhos
feitos por “Zé Lérias”,
recordando os trabalhos talhados em madeira, sendo depois gravados com um ferro
em brasa, e quem não se lembra das famosas rolas, ou os curiosos peixes, onde
normalmente eram construídos numa base, onde se erguia uma haste com cerca de
quarenta centímetros, com diversos braços, com um fio na ponta, onde prendia os
ditos peixes e rolas, tudo ligado entre si, dando-lhes movimento.
“Zé Lérias”, fazia os trabalhos em madeira, sempre trabalhando e talhando os mesmos com a sua navalha, e os gravadores a fogo, o ferro em brasa, de onde saiam peças maravilhosas, de grande beleza extraordinária, e mais lindas ainda quando as mesmas tinham movimento, oscilando, provocando uma dança fantástica, onde criava belos efeitos, onde nunca faltava na base das suas peças elaboradas, o nome da sua terra “SALVADOR” em destaque.
“Zé
Lérias” era um homem sempre
muito bem-disposto, com muito sentido de humor, era um homem simples e modesto,
e nunca deixava ninguém indiferente, e o nosso artesão tornou-se muito
conhecido, e as suas peças elaboradas espalharam-se tanto pelo nosso Portugal,
como além-fronteiras, no estrangeiro.
Teve presença habitual em diversos certames de artesanato, como por exemplo o Festival de Gastronomia de Santarém, a Exposição Internacional de Artesanato do Estoril, e em muitos eventos realizados na Região de Turismo da Serra da Estrela, mas uma coisa temos de referir, foi um grande embaixador da nossa aldeia, levando sempre consigo o nome de “SALVADOR”, gravado a fogo nas suas peças de arte.
O artesanato sempre existiu na
nossa aldeia, em documentos antigos, existem referências ao artesanato de
aplicação prática, muito diferente da atualidade, o qual era voltado para o
supérfluo e para o lazer, de referir por exemplo os cesteiros, as tecedeiras,
os cadeireiros, onde nos seus momentos de folga do campo, e sempre que
possível, aproveitavam essas alturas para nas suas casas, fazerem o artesanato,
e ainda faziam uteis assentos, vasilhas, como ainda lenços frescos de linho, ou
as mantas e cobertores, feitos com restos de tecidos e trapos velhos ou usados
caseiros, que no final eram muito vistosos.
“Zé Lérias”, tem assim magníficos trabalhos espalhados por todo o lado, desconhecendo em “Salvador” onde possam estar. Fotos do nosso artesão como dos seus trabalhos são escassas ver, numa foto antiga de um artigo publicado no Jornal Diário de Notícias datada de 1988, podemos ver “Zé Lérias” do lado direito, com um dos muitos diplomas com que foi distinguido, ao lado de “César de Oliveira” que se encontra à esquerda, o famoso autor do teatro e da televisão, sendo fotografado em sua casa, uma das últimas fotos do artesão Salvadorense.
Não podíamos assim deixar
passar em branco e esquecer este homem, onde vamos reviver um pouco do seu
artesanato, onde encontramos algumas, mas pouca peças no “Provisório Museu de Salvador”, são muito
poucos esses trabalhos, mas mostram um pouco do mesmo, o que as mesmas podem
ser uma excelente e importante atração turística, em defesa de um património
cultural de alto valor da nossa aldeia, que deveria ser exibido e divulgado, por
serem de um simples Homem do Povo.
José Antunes, de sua alcunha “Zé Lérias”, nasceu a 31 de março de 1921,
deixando-nos aos 73 anos de idade, a 13 de janeiro de 1994, deixando um espólio
e trabalhos sem dúvida muito interessante, que deveria ser exposto, sempre com
o nome gravado da nossa bonita aldeia “SALVADOR”.
Este artigo contém excertos do
livro “Salvador Barquinha D’Oiro”,
cedido gentilmente pelo nosso conterrâneo Albertino Calamote, o qual
agradecemos a sua gentiliza, obrigado.
Um bem-haja para todos.