Por: José Morais
Postal ilustrado de Salvador: José Morais
A aldeia de “Salvador” possui sem
dúvida um grande historial, muitos, principalmente os mais novos desconhecem a
sua história, as suas origens, como ainda feitos de antigamente, como pessoas
importantes e que se destacaram na aldeia.
Hoje, iremos divulgar alguns pontos da história de “Salvador”, como as suas origens, o seu brasão, o estandarte, a religião, e outros
pontos de interesse, num resumo que fizemos da história da nossa aldeia que
felizmente é imensa, e onde ao longo de outras publicações iremos desvendar, e
garanto-vos, assuntos de grande interesse para os Salvadorenses, e todos
aqueles que simpatizam com a nossa terra.
A nossa terra é um pouco como a nossa mãe. Ela é, para nós, a melhor e a
mais bonita do mundo. Não há como a nossa mãe, como não há como a nossa terra, ambas
colhem de nós em amor incondicional.
O Salvadorense não é diferente de qualquer outro povo, quando põe a sua
terra natal lá nas alturas, nem isso é questão que altere com os tempos, ou com
as gerações. Atribuído ao nosso ilustre conterrâneo José Candeias da Silva, o
célebre verso “Salvador Barquinha D’oiro” bem pode ser uma representação imemorial de
apego e de carinho à terra-berço.
A aldeia de “Salvador”, atualmente freguesia, fica situada nas
faldas das serras de Penha Garcia, e faldas da serra da Gardunha, entre as
Aranhas do mesmo concelho, e Monsanto e Penha Garcia de Idanha-a-Nova, segundo
a tradição, esteve primeiramente situada no sítio da quinta do Marquês da Graciosa
e, segundo outros, no sítio dos Covões.
A aldeia que em tempos esteve integrada no concelho de Monsanto, o qual foi extinto por decreto de 28 de setembro de 1843 e 16 de fevereiro de 1848, passando nessa altura a pertencer a Penamacor, fica situada a 12 km da sede do concelho, e a 7 km da fronteira com Espanha, sendo uma das freguesias que registou um maior aumento populacional, chegou a ter no ano de 1950, 1473 habitantes, número que reduziu para os últimos censos realizados em 2021, com 320 habitantes.
Um pouco de história
“Salvador” que fez parte
do extinto concelho de Monsanto até meados do século XIX, altura em que passou
a integrar o concelho de Penamacor, os vestígios mais antigos do povoamento de
Salvador encontram-se no chamado sítio dos Covões ou Cavões, onde foram
encontrados restos de antigas habitações, uma pia batismal, diversas moedas, objetos
domésticos do dia-a-dia e sepulturas esculpidas em rochas, com esta aldeia a
sofrer horrores com as invasões francesas, que durante as lutas o povo se
escondia numa caverna chamada de Viveiro das Gralhas, mas segundo outros, no
Viveiro dos Covões, perto da povoação, onde existia uma nascente, a que chamaram
de Fonte Santa, com águas sulfurosas, que eram aplicadas nas cura de certas
doenças,
A primeira referência administrativa de “Salvador” mencionava-a como um priorado, associado à casa de Belmonte. Os condes de Belmonte possuíam diversas propriedades em Salvador. Numa delas, na quinta do cercado, encontrava-se a antiga igreja matriz, a qual foi demolida, e reconstruída mais tarde pelo povo noutro local, já que os Condes se negaram a fazê-lo, a maior parte da população da zona era constituída por caseiros ou rendeiros dos condes, até 1881, Salvador pertenceu à Diocese de Castelo Branco, altura em que esta foi extinta, a partir de então, passou a integrar a Diocese da Guarda.
O brasão
O brasão da freguesia de “Salvador” consiste num escudo de prata, com uma oliveira pintada de verde, com frutos negros. Possui ainda uma flor-de-lis de prata, com duas cabras em cor de púrpura, uma de cada lado, sendo encimada por uma coroa mural de prata, com três torres, em baixo, encontra-se um listel branco, com o nome do local em letras maiúsculas pretas: "Salvador-Penamacor".
O brasão de armas e bandeira da freguesia de Salvador
As armas, possui um escudo de prata, oliveira arrancada de verde e
frutada de negro, carregada com uma flor-de-lis de prata, entre duas cabras de
púrpura, a da dextra voltada, um coroa mural de prata de três torres, listel
branco, com a legenda a negro, em maiúsculas "Salvador - Penamacor".
O estandarte, uma púrpura, um cordão e borlas de prata e púrpura., a haste e lança de ouro.
A religião
Apesar de muitos desconhecerem, a padroeira de Salvador não é “Santa Sofia” como muitos pensam, pela realização dos seus
festejos anuais, a padroeira da aldeia é “Nossa
Senhora da Oliveira”, reza a
lenda que numa concavidade de uma oliveira apareceu uma imagem sua, no sítio
dos Covões, nascendo assim o seu culto, já que tudo leva a crer que no mesmo
local existiu um templo, que lhe era dedicado, onde repousava a sua imagem.
Ao ser este demolido, dada a sua antiguidade, a imagem foi transferida
para a igreja matriz da Aldeia de João Pires durante alguns anos, por se
recusarem os condes de Belmonte a construir uma nova igreja, e os fiéis viram-se
obrigados a construir a mesma, à sua custa, num novo local, onde atualmente se
encontra. A imagem voltou então para o Salvador, e posteriormente depois, do
bispo da Guarda D. Rodrigo de Moura Teles, em visita à povoação, ter achado que
a imagem se encontrava em tão mau estado de conservação, mandou enterrar a
mesma, e mandou que fosse feita uma nova imagem.
A aldeia possui atualmente uma igreja e duas capelas, sendo a igreja
matriz de “Nossa Senhora da Oliveira”, a padroeira
de Salvador, onde não existem referências que alguma vez se tenha festejado a
mesma, como acontece com “Santa Sofia”, mas onde anualmente faz parte da procissão
saindo à rua com a mesma.
A capela de “Santa Sofia” foi erguida
pelo povo, sendo uma forma de reconhecimento pela povoação, de ter sido poupada
a aldeia à destruição por uma forte tempestade e inundação, esta apesar de não
ser a padroeira da aldeia como muitos pensam, anualmente realizam os festejos
religiosos e civis, em honra à mesma, sempre no primeiro fim de semana de
setembro.
Por último, a capela de “Nossa Senhora de Fátima” com uma construção mais recente, anualmente “Salvador” celebra esta “Santa” a 12 de Maio com uma procissão de velas, durante a qual se viam colchas artisticamente decoradas às janelas, arcos de flores e diversas lâmpadas acesas.
Uma vida na agricultura
A agricultura, era a principal atividade da aldeia, eram das terras de cultivo que o povo se alimentava, já que o mesmo era pobre, apesar de se cultivar um pouco de tudo, o centeio era a maior cultura já que não exigia terrenos tão ricos, o trigo também era semeado em terrenos mais fundos e férteis, porem, uma aldeia junto à raia, com os olhos colocados em Espanha, o contrabando era também o trabalho de muitos, entre outros ofícios, e em certas altura do ano, tanto homens como mulheres, iam para longe da aldeia trabalhar, na apanha da azeitona, do tomate, nas vindimas, e ainda nos eucaliptos e pinheiros.
A alimentação
Com um povo pobre e grandes dificuldades, alimentava-se do que semeava no dia a dia, as azeitonas estavam em primeiro como conduto para acompanhar o pão, depois vinha o queijo, por norma tinham uma ou duas cabras ou ovelhas, o qual tiravam o leite para fazer o mesmo, existia ainda a tradicional matança do porco, onde se fazia enchido para ser consumido durante o ano, e em dias especiais.
O Vieiro das Gralhas
São exemplo único da exploração de manganês e ferro no concelho de Penamacor e na região do Geopark Naturtejo, e apesar da difícil contextualização temporal, estas minas mostraram ter um longo período de evolução desde a proto-história. A grandiosidade cénica do Vieiro das Gralhas salienta-se pela sua dimensão e beleza paisagística com aberturas em abóbada de traçado irregular para as galerias, por vezes enormes e muito próximas da superfície, permitindo um fácil acesso, como também a identificação de minerais e escórias resultantes da atividade metalúrgica.
Algumas curiosidades
Para quem não tem conhecimentos, na aldeia de “Salvador” existiu um posto da antiga Guarda Fiscal, já que perto da fronteira, e com o imenso contrabando era uma forma de melhor controlar. Chegaram a existir quatro lagares de azeite, cinco comércios, quatro tabernas, um café, uma moagem onde moia as sementes dos habitante, e alguns fornos de casas abastadas, onde os habitantes coziam o pão que muitas vezes era para ser consumido durante quinze dias, e onde teriam de dar a “poia” o que chamavam ao pagamento na altura que era feito em pão cozido, e ainda o táxi do “Ti Adelino”.
O artesanato e a gastronomia
Apesar dos tempos serem outros, noutros tempos fazia-se trabalhos de artesanato onde se incluíam os adufes, os bordados e as rendas, entre outros objetos por artesãos Salvadorenses, na gastronomia, a destacar os queijos, os enchidos, os bolos, o pão caseiro e o pão-de-ló, muito utilizado nos casamento.
A cultura e tradições
Salvador teve em tempos um rancho folclórico, e ainda o grupo das “Maias”, grandes tocadores de concertina, e uma das grandes tradições que era costume de antigamente e se fazia rigorosamente, e que estava a cargo dos rapazes que tinham idade para ir à inspeção militar, tinham a seu cargo o madeiro acendido em vésperas de Natal.
Curiosidades
Muitos desconhecem por exemplo que o primeiro automóvel que foi para o Salvador era um Ford V8, foi mais ou menos em 1945, e pertencia ao Senhor António Raposo, que era filho do abastado comerciante na altura, o Senhor José Manteigas Raposo, pessoa que em 1923 doara o relógio da torre da igreja matriz.
O património de Salvador
Quem visita a nossa aldeia pode visitar alguns locais interessante, como
a “Capela de Santa Sofia”, com o seu Mirador maravilhoso, onde o visitante pode deslumbrar-se a
visualizar toda a aldeia, e ainda ao longe a aldeia de Monsanto, a Capela de Nossa Senhora de Fátima, a “Igreja Matriz “da padroeira
da aldeia “Senhora da Oliveira”, situada no largo principal, onde o seu
relógio foi restaurado na primeira metade da década de 2000, a “Fonte de Mergulho”, o “Chafariz das Duas Bicas ou
Cerrado”, também conhecido
pelo “Chafariz da Senhora de Fátima”, onde se situam os antigos lavadouros
públicos, a escola, o “Chafariz Fundeiro”, o “Chafariz Novo”, entre algumas das ruas emblemática e
bonitas da aldeia.
Esta, um pouco da história da aldeia de “Salvador”, muitas mais coisas para dizer, que irão ser reveladas noutras
publicações, esperando ser do vosso agrado.
Nota: Este artigo possui excertos do livro “Salvador Barquinha D’oiro” de Albertino Camalote, do livro “O Concelho de Penamacor” de José Manuel Landeiro, Site da Câmara
Municipal de Penamacor, do INE-Instituto Nacional de Estatísticas da Plataforma
de divulgação dos Censos 2021, entre outras pesquisas sem referências de autor.
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